As voltas da Juliette

Informações e propostas sobre encontros, passeios e locais a visitar

As voltas da Juliette

Mensagempor Mcas » domingo Oct 07, 2007 11:29 pm

Depois das emoções do encontro CCP, ler este meu singelo relato é com certeza redundante. Vamos a ele...
Felizmente liberto de um compromisso que me impedia de participar no dito encontro, urgia encontrar rapidamente um destino que compensasse o convívio com tantos companheiros. Assim, perante a dúvida norte, sul, este ou oeste (este pouco provável já que moro em Aveiro...) a decisão acabou por ser...nordeste! Ora então vamos a caminho de Trás-os-Montes, a Montalegre e arredores, numa incursão breve, "da qual se dará notícia como se segue" como diria F. Lopes.
Saída já tarde de Aveiro, sexta-feira rumo a Braga com o fito de ver o Bom Jesus, local onde já não íamos há largos anos... :oops: Pelo caminho demos conta que nos esquecêramos dos roteiros, do Guia da Rep*** e do GPS. OK, encontrámos na AV um mapa ACP de 2004 e foi com esse que nos guiámos. A pressa levou-nos pela auto-estrada e a conversa fez-nos falhar a saída para Braga. Boa!
Saídos em Vila Verde, a rádio local informa-nos da realização da Festa (feira) das Colheitas. Curiosos, estacionámos perto da dita e fomos feirar depois de reconfortar os estômagos com uma bola de carne de Amares e uma tacinha (só uma e pequena) de verde branco. A festa agricola/artesanato estava bem composta, farta e variada. Como o povo estava a chegar aos magotes achámos que já era tempo de partir. Dali optámos por Póvoa de Lanhoso e subir à Senhora do Pilar para ver as vistas. Depois Vieira do Minho (Feira da Ladra e animação de rua) em direcção à nac.103 entre Ruivães e Salamonde. O que não contávamos era que esse troço de 13Km, de sobe e desce, fosse algo exigente em termos de condução e resposta da máquina...
Retomada a nacional fomos bordejando as sucessivas barragens, com paisagens apelativas e nalguns recantos a fazer lembrar algumas perspectivas dos fiordes noruegueses, pese embora a comparação. A noite descia rapidamente e portanto impedia de ver alguns pontos pelo caminho que a sinalética ia anunciando. Montalegre, pois! A vila apresentava-se quase deserta e opção de pernoita recaiu sobre o largo do castelo ainda que com dois restaurantes próximos e o respectivo movimento. Arrumados, fomos espreitar os restaurantes tendo optado pela "Tasca do Açougue". Boa escolha! Da ementa saltaram uma posta de vitela e uma espetada da dita, bem servidas em cama de couve tronchuda salteada e batatas na brasa, regadas na conta com óptimo azeite e um leve sabor a alho. Para ajudar a deglutir escorreu um tinto da casa com aplauso e bis, equilibrado e malabarista ali dos lados de Mirandela. Sobremesa de peras bêbadas. Depois do café foi-me oferecido :D um brandy, não sei porquê, mas o gesto foi simpático. Total 23.30€, totalmente justificados por uma cozinha regional honesta e sápida. Findo repasto, tempo para uma longa volta à vila, agora já com outros visitantes pela rua. No local de pernoita estavam já mais duas ACs, pelo que dormimos com companhia numa noite tranquila.
Sábado.
(Re)acordar tarde uma vez que um nevoeiro húmido e algo frio se tinha abatido sobre a vila, não deixando entrever mais que umas dezenas de metros.
Assim, saída da AV pelas 10,30, para pequeno-almoço e algumas compras. O primeiro tomou-se na Padaria Costa, também café, ali a 50m. Pão da prateleira para a mesa, bom pão transmontano, cozido a forno de lenha pelos proprietários. Feitas as compras, "ala que se faz tarde" para Vilar de Perdizes, a tal terra das bruxas, do padre **** e das ervas e mezinhas. Desilusão. Se bem que a aldeia não tenha que estar sempre em festa tudo fechado e semideserto não é por força um bom cartaz. Enfim, para não vir de mãos a abanar lá comprámos uns chás da ti'Ana Pitinha, no Café Girassol, daqueles que se compram em qualquer ervanária. Acho que podia haver um pouco mais de imaginação na venda destes produtos, na embalagem, na rotulagem, no marketing em geral. Assim, ensacados em plástico são pouco apelativos. Estivéssemos em França e a história seria outra. Penso que não há como os franceses para saber vender os produtos regionais...
No regresso a Montalegre, paragem na aldeia de Gralhas, onde há vários pontos de abastecimento de água, como adiante se verá...
Pois em Gralhas há uma grande placa que, entre outras se destaca por apontar "Cidade romana de Grou". Ena pá!! Cidade romana? Temos que ver!! E lá fomos. Atravessada a aldeia e passado por Santo André, com Espanha ali a 2km, nada de cidade romana. Então? Valeu-nos uma senhora que lavava água num tanque e que nos disse textualmente: " Cidade romana? Que cidade? Aquele monte de pedras lá no meio da carqueja e da esteva? Aquilo é só matagal...Muita gente lá tem ido ao engano."
E nós lá fomos, tentando contrariar o engano. Mas fica para outro dia, se quiseram, que a prosa vai longa.
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Mensagempor Paulo » segunda Oct 08, 2007 8:30 am

Bom dia Mcas.

Lamentamos a tua ausência no V Encontro, mas certamente mais oportunidades surgirão :D .

Realmente, os teus relatos (neste caso de um fim-de-semana) colam-nos os olhos ao texto, e só desgrudamos no final.

Sempre que puderes, PF não deixes de partilhar aqui os teus passeios, pois essa informação é preciosa para os que pensarem seguir a mesma rota.

Muito obrigado!
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As voltas da Juliette 2

Mensagempor Mcas » quarta Oct 10, 2007 11:27 pm

Só para "Chatear", aí vai...e depois digam que eu não contribuo para o forum :lol:
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Vivam!
Ficámos então no ponto em que aguçados pelo apetite de ver a cidade romana de Grou fomos quase dissuadidos por uma lavadeira da aldeia de Santo André, Montalegre.
Decididos a ver como era iniciámos a descida íngreme até ao ribeiro onde nos cruzámos com um casal em BTT o que nos deu algum alento pensando que a “cidade” talvez existisse. Depressa nos apercebemos que o alcatrão seguia até Espanha e nos estava reservado por indicação da placa uma “rodeira”, como por ali se diz e que significa pouco mais que um caminho para tractor agrícola ou carro de bois ou ainda uma “picada” para quem andou por além-mar. À primeira tentativa recuámos com algum receio de riscar os acrílicos das janelas nas giestas quase arbóreas que ladeavam o caminho. A segunda tentativa foi mais feliz e seguimos caminho, rindo-nos do disparate e despropósito de uma AV a rodar por um caminho esconso, na serra do Larouco, quase no meio de nada. De repente a rodeira acabou!!! Então e a cidade? Muito a custo e com os olhos mais habituados ao relevo, conseguimos vislumbrar um amontoado de pedras, em forma circular mais ou menos alinhado. Na melhor das hipóteses poderia ser ali o “oppidum” romano, a zona fortificada da “cidade romana”. E mais nada! Só as giestas, as estevas, a carqueja e um cão a ladrar ao longe! Ah! E o ar puro, uma vista magnífica, uma AV e dois tontos…que foram ao engano.
Pensamos que a tal placa deveria ser rectificada com uma informação mais correcta e de acordo com o que se vai encontrar. No final, fizémos como a raposa da fábula das uvas e comentámos: “É uma cidade romana…mas por escavar”.
De volta a Santo André e porque o avisador do depósito de águas limpas não se calava por estar quase vazio, procurámos um fontanário onde abastecer. Maravilha das maravilhas ali no fim da povoação estava uma pia de granito (do género tanque pequeno) encimada por uma torneira com mangueira. Perfeito, julgámos nós, pois, em boa-fé, parecia-nos uma pia pública de acesso livre. Não se via ninguém mas, mal começámos a abastecer aparece um sujeito de cara pouco amiga a pergunta quem nos tinha dado autorização para utilizar a água. Explicámo-nos e argumentámos que “água é um bem que não se recusa a ninguém”. No meio do alarido aparece a mãe do sujeito, de xaile preto, avental e de idade avançada, a quem foram dadas segundas explicações. Autoritária, mandou calar o filho dizendo-lhe que ela é que era mãe, subentendendo-se quem mandava ali. Explicou que a pia era particular, de outro filho, que tinha contador e que (depois de grande conversa -dela) podíamos abastecer à vontade. Entretanto chegou o dono da pia…terceiras explicações…mais “perléu-peu-peu” e ele, entre divertido e espantado pelo escarcéu do irmão, reafirmou que podíamos abastecer e …boa viagem.
E nós seguimos…ainda atarantados pelo episódio e a concluir que: 1- quando a oportunidade parecer demasiado fácil, há que desconfiar; 2- verificar sempre onde termina uma mangueira (pode ser num contador de água); 3- o que parece nem sempre é; 4- em Santo André mandam as mães!
De volta a Montalegre seguimos em direcção a Pitões das Júnias, em trajecto curto e pitoresco. O que nos era suposto ver, aldeia tradicional bem conservada, rústica e autêntica, revelou-se um povoado razoavelmente calcetado, aqui e ali com recantos intocados e, infelizmente, outros com estilo “maison” a juntar a um elevado número de casas abandonadas e em ruína. Algumas reconstruções abusam do alumínio e são pouco fiéis à construção típica transmontana; faltam os varandins de madeira e abundam as “marquises”. A aldeia pode ganhar em “estilo”, mas perde em autenticidade.
Combinado que almoçaríamos ali (eram 15h e 30min) procurámos os “famosos” D. Pedro e Casa do Preto. Chegados ao primeiro, no alto da aldeia; pedimos a lista e depois de uma vista de olhos saímos, não porque fosse caro ou a ementa sugestiva (à porta estava muitos carro de alta cilindrada) mas porque ainda estava cheio por força de uma excursão de “terceira idade” acabada de chegar. Assim, na perspectiva de uma longa espera decidimos descer ao segundo, esse sim com lugares vagos embora ainda com alguns clientes. A ementa já estava substancialmente reduzida pelo que a escolha era limitada. Ainda assim pedimos posta e costeleta de vitela, (17€) ambas na brasa, servidas na mesma travessa com uma quantidade mínima de verdura e meia dúzia de batatinhas passadas por azeite a fingir de “batatas a murro”.
Para entrada, pão (de boa qualidade e ainda quente- 1€) e azeitonas (de sofrível qualidade, de barrica plástica 1,30€) uma alheira (muito boa e muito bem temperada -4€) .
O que é feito das boas e saborosas azeitonas transmontanas da Terra Quente, de Mirandela ou do Cachão? E dos enchidos?
A vitela deixou-se comer, melhor a posta que a costela que, além de fina, foi grelhada em lume já pouco vivo e, portanto, ficou mais recozida que grelhada. O adiantado da hora de almoço não devia servir de desculpa para estes desvios a uma gastronomia que se pretende autêntica e representativa de uma região. Sobremesa de queijo com todos, isto é, uma fatia de queijo de vaca (industrial), uma colher de mel, um cubo de marmelada, uma colher de doce de marmelo e uma de doce de abóbora -4€; uma taça de vinho tinto (havia que conduzir) e ½ litro de água -3€; cafés -1,2€. Tudo somado chegou aos 31,50€ que, em abono da verdade, não valeram a pena. Alguém tem que pagar a casa nova, não é? Ficou-nos aquela sensação que no outro talvez…
Dali retirámos a AV para a zona do cemitério e descemos a ladeira íngreme que leva ao Mosteiro de Santa Maria ou de Pitões. Lamentável a ruína a que se deixa chegar o património que é de todos. Não fora o telhado recente e também a igreja já teria desabado, segundo me disseram. Uma vez mais recorro aos exemplos que todos nós vemos por essa Europa fora. Mesmo que fosse na vizinha Espanha, estaria naquela degradação? Certamente que não…e se fosse em França? Certamente o acesso já estaria melhorado (para todos, deficientes motores incluídos), que a reconstrução estaria feita de acordo e com materiais da época, que haveria uma lojinha de venda de produtos religiosos e locais, que haveria estacionamento par todo o tipo de veículos, que estaria limpo de vegetação e detritos, etc…Por aqui, ficamo-nos na contemplação das ruínas, ao gosto romântico do séc. XIX , à espera do mecenato de um banco, e a deixar que o tempo leve as últimas pedras. Somos assim…que se há-de fazer?
Acabada a visita ainda fomos a Tourém. O que disse de Pitões digo de Tourém: tem bom e mau…e foi pena que ninguém dissesse às pessoas que preservar e reconstruir lhes traria mais vantagens que prejuízos.
De Tourém até Aveiro não haverá mais que contar para além das paisagens arrebatadoras que se vislumbram da Nac. 103: as barragens, as gargantas profundas, as aldeias semeadas nas encostas, enfim, do Portugal de que apesar de tudo gostamos, desculpamos, compreendemos e a que voltamos sempre.
E já agora, à boa maneira portuguesa, “desculpem qualquer coisinha”.
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Mensagempor Mcas » quarta Oct 10, 2007 11:40 pm

...à procura da cidade romana de Grou...

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Off Road

Mensagempor Mario » quinta Oct 11, 2007 7:08 am

Ao companheiro Mcas dou conta do quanto me agradam as descrições das suas aventuras cujos comentários coincidem com as apreciações sobre o estado do nosso património que quando aparentemente se revela menos importante é preciso afastar o capim para o vislumbrar :? :?
A foto da Juliete toda empertigada num percurso off road faz corar de embaraço qualquer máquina mais adaptada a estas andanças coragem Juliete sempre por maus caminhos :wink: :wink:
Aquele Abraço

Mário
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