por Henrique Fernandes » terça abr 27, 2010 7:40 pm
Companheiros:
Cerca de 9% dos homens têm alguma forma de daltonismo para cores como o verde e o vermelho. Essas cores, por sua vez, entram na composição da maioria das outras cores do espectro visível.
As cores são por nós percebidas através de um sistema denominado RGB (red, green, blue), assente em três tipos de células existentes na retina humana, chamadas cones, cada um deles preparado para detectar apenas um determinado comprimento de onda, ou seja, cada uma dessas três cores fundamentais. Este sistema RGB não existe, por exemplo, nos cães ou nos leões, que simplesmente vêem a preto e branco, com melhor utilização compensatória de um outro mecanismo a que chamarei aqui "visão de contraste de movimento" (em que são melhores do que nós, humanos).
Assim, os daltónicos tendem, com maior ou menor grau de intensidade, a só "verem" o verde ou o vermelho (consoante os casos, já que ninguém é simultaneamente daltónico para as duas cores) na forma de diferentes intensidades de cinzento. Isto, naturalmente, influencia a forma como cada daltónico percepciona por sua vez outras cores em cuja composição seja relevante o verde ou o vermelho.
Para melhor compreenderem, as tradicionais 7 cores do arco íris, quando "somadas" na mesma exactíssima proporção entre si, originam simplesmente a cor branca; assim, para as pessoas com determinada deficiência na percepção de uma certa cor o conjunto desequilibra-se e não é bem um branco que no fim conseguem visualizar.
Há ainda situações, felizmente muito mais raras, em que as pessoas têm deficiências de outra ordem, por exemplo na gama dos azuis, limitações essas que podem ser as únicas de que sofrem ou associar-se a uma das outras que atrás referi.
Isto tudo para dizer que o tal inspector até pode não ter feito por mal, pode tratar-se simplesmente de uma situação em que não se apercebe do mal que causa a terceiros. A maioria dos daltónicos desconhece que o é. Antigamente era comum descobrirem esses facto durante a inspecção militar. Como hoje a maioria dos homens já não vai à tropa o problema da não detecção do daltonismo é maior. Há um teste que permite detectar o daltonismo (teste de Ishihara) mas só é válido em condições padronizadas de controle da temperatura da luz ambiente, pelo que só se efectua normalmente na Força Aérea, recrutamento de motoristas para combóios, etc, etc.
A questão subjacente, se for esse o caso de que falamos aqui (e na verdade não sabemos se é) poderia ser então a de tentarmos perceber como é possível colocar em certas funções, nomeadamente as que incluam a avaliação das cores dos automóveis, uma pessoa que sem qualquer responsabilidade sua tem afinal uma doença congénita deste tipo, tantas vezes sem o saber.
A pergunta impõe-se: quem de facto inspecciona adequadamente os inspectores?!...
Alguém me diz?