por Carlos Baptista » domingo jul 14, 2013 9:18 pm
Companheiros!
Depois de andar aqui no quintal, resolvi armar-me em atrevido e fugir de casa.
Peguei na senhora minha esposa e num jovem, meu neto, com 15 anos e ala que se faz tarde.
Destino: Hessich Oldendorf. Uma cidade pequena no norte da Alemanha, onde, nos dias 21, 22 e 23 de Junho se realizou um encontro de Volkswagens refrigerados a ar - a minha pancada!
Inicialmente era para ir sózinho e aí, iria de carocha. Mas depois, a senhora minha esposa resolveu fazer-me companhia e então tive que mudar de planos e até, embarcar mais um passageiro.
Preparei a carripana o melhor que podia e sabia; um bocado à pressa!
Como o guito não abunda e para fazer esta viagem fiz mealheiro durante quatro anos, não me foi possível fazer tudo aquilo que deveria ter feito, em termos de revisão geral. Confiei na máquina! Óleos, filtros, substituição da bomba de água, dois pneus novos mas, deveriam ter sido os quatro. Mais adiante sabeis porquê.
Tinha 2800 Kms pela frente, até chegar ao destino.
Como a carripana é lenta (Mercedes 310 D, de 93)fiz os cálculos para 400 kms por dia e, sempre a fugir aos grandes centros urbanos.
Um GPS emprestado e depois logo se via.
E lá fui! A 14 de Junho fiz-me à estrada. Todo vaidoso, a guiar a minha Mercedes, agora numa missão completamente diferente daquela para que foi concebida. Ela era uma ambulância!
Aquela dos 400 kms por dia, era uma boa intenção; mas quando se viaja acompanhado, outros poderes se levantam!
Assim, optei por ficar na Guarda, mas,fiz questão de avisar:
- Quanto menos kms fizer hoje, mais tenho que fazer amanhã! É que eu tinha mesmo que lá estar no dia 21.
No dia seguinte lá fomos, mas acabámos por não sair cedo, porque só se podia sair do parque de campismo a partir das 8 horas.
A coisa foi correndo bem, mas vi que por estradas secundárias não me safava: Se poupava em portagens, gastava em tempo e gasóleo, alem de andar aos saltos. Em espanha a coisa passou-se bem; auto via e tal...
Bem! Foi um tratado! Acabei por ficar no parque de campismo de Tordesilhas (caro - muito caro - mas bom!)
Continuando por terras de Espanha e vá de entrar em França. O mais aborrecido é que era sempre o primeiro da fila. Estes carros são excessivamente lentos! Sempre encostado à direita, o mais possível e, algumas vezes parava mesmo. Não me sentia bem comigo mesmo, trazendo uma fila atrás de mim. Dava escoamento ao tráfego e depois metia-me outra vez à estrada.
Em França, passei a primeira noite num parque pobrezinho, mas barato e funcional; em Tercis-les-Bains, junto a Dax. Não tive direito a energia eletrica, por incompatibilidade da ficha - realmente, podiam normalizar a coisa!
Tratei de comprar uma ficha do tipo deles; assim fiquei guarnecido para a volta.
Apanhei muitas obras na auto estrada e, por consequência, os afunilamentos do costume. Mas no final, tal como cá, paguei e não bufei.
S. Jean de Angely foi a terra onde fiquei a seguir: Bom parque, tem um intermarchê e até encontrei uma funcionária da caixa que era portuguesa. Gostei!
Para fugir a Paris, rumei a Le Mans direito a Rouen, onde pernoitei numa área de serviço.
Ao entrar na Bélgica nota-se logo: parece um campo de golf - é só buracos! Mais adiante a coisa compõe-se e o piso melhora. Fiquei numa área de serviço muito boa, em Mons; Vale a pena! Tinham gelados e tudo!
No outro dia, ao levantar, apercebi-me que tinha uma pingadeira no chão. Como ia equipado com uma esteira, lá me deitei debaixo dela para ver o que se passava. Ó diabo! Aquilo estava tudo babado. Andei por ali às apalpadelas e lá vi que era um tubo da bomba da direção que estava rôto. Fui ao depósito do óleo da bomba, estava quase seco.
E agora? Bem! dali até à Mercedes eram cerca de 5 kms. Fui à garrafa do azeite e vá de botar azeite Galo lá para dentro que foi uma palhinha.
Toca a andar que se faz tarde! Entrei numa oficina de automóveis (multi marca) onde não se via ninguem. Lá apareceu um velhote que olhava para o meu neto com ar de mêdo e que não percebia nada do mês francês ali da Doca do Poço do Bispo. Lá nos entendemos e ele lá me indicou onde era a Mercedes. Depois é que vi o motivo do ar de medo: é que o meu neto é um bocado moreno e ele tê-lo-ia tomado por cigano. Digo eu!
Na Mercedes fui bem atendido e lá comprei óleo para a direcção. Já tinha enrolado um bocado de fita isoladora com uma abraçadeira para estancar a fuga e vá de adicionar mais óleo ao azeite Galo.
Segui viagem direito a Bad Pyrmont que era o meu destino final. No entanto, ainda estava a 30 kms de H. Oldendorf. Ia e vinha todos os dias.
A seguir, iniciei a viagem de regresso. Acende-se a luz da bateria. Ok! O alternador deixou de carregar.
Pois! Foi assunto sobre o qual eu nem sequer me debrucei, aquando da preparação da viatura para a viagem.
Talvez escovas!? Eu sei lá! Só sei que nada de luzes, nem limpara vidros, nem nada. E tentar vir até Portugal assim. A bateria ainda iria aguentar uns bons arranques!
Perdido por dez, perdido por mil! Fui direito à Holanda - gente boa, afável, simpática. Vale a pena!
Os coelhos bravos passeiam às centenas no meio das pessoas. Deve ser espécie protegida!
Depois Bélgica novamente e por aí abaixo.
Em França, um carro da polícia ao meu lado ligou a sirene, colocou-se à minha frente e mandou-me segui-lo. Boa!
Atrás de mim vinha outro igual. Estavam com medo que eu desse à cueca!
Lá fui atrás deles até um parque onde estava uma companhia de polícias a fiscalizar os carros. Viram dois ou três papéis e mandaram-me embora. Isto não se faz! Nós é que somos simpáticos; fazemos este tipo de serviço nas áreas de serviço, para não prejudicar os automobilistas.
Tinha que ser no país Basco e a um sábado que a bateria se recusou a colaborar comigo.
Tinha parado numa área de serviço para tomar um café e, quando voltei, nada! Mesmo nada!
Lá falei com o sujeito que estava na loja de conveniência, ele telefonou para outro e, passado cerca de 20 minutos lá estava o funcionário da Brisa lá do sítio. Já sabia que ali não me safava com uma bateria nova, porque eles não tinham - fazem mal!
O sujeito lá preparou os cabos para me dar um encosto de bateria e eis que a menina estava a roncar novamente. Fui pelo outro lado e disse à minha senhora:
-Dá-me aí uma notita de 10 €, para eu dar uma propina ao homem!
Ahahahahah! Qual quê!!! Quando chego ao pé dele, estava ele a passar um recibo no valor de 30 €! Boa!
Lá voltei ao porta moedas a buscar mais 20 €! Pagam-se bem!
Se eu soubesse não tinha sujado as mãos! Quem segurou os cabos na minha bateria, fui eu!
Valha a verdade que o senhor foi simpático e escoltou-me durante cerca de 20 kms até à saída para a cidade mais próxima que era Eibar, onde, segundo ele, havia uma superfície comercial onde eu poderia comprar uma bateria.
Já não parei mais o motor e ali deixei a carripana a trabalhar numa praça, com a minha senhora lá dentro e fui comprar a bateria.
Lá encontrei um supermercado, tipo continente, de seu nome EROSKY. Ali é assim; é só Kapas.
Bateria nova e fogo à peça!
Toca a seguir viagem!
Perguntei a um agente da guarda civil onde ficava o parque de campismo mais próximo e ele indicou-me um em Pancorbo.
Penso que ele não sabia o estado de degradação de semelhante parque! Aquilo era uma chuleira. Tudo partido. Casas de banho que era para esquecer. autoclismos sem tampa, só um chuveiro é que funcionava, urinóis tapados com plástico preto indicando que estavam inop`s.
A base do chuveiro que estava operacional, era uma porta velha. A porta do chuveiro estava toda podre e partida. Enfim! É para esquecer!
Manhã cedo arranquei e fiz-me à estrada.
Venho eu, alegre e contente, nos meus 90 kms/hora, quando o pneu da traseira esquerda resolveu estoirar. Não estivesse eu, habituado a granadas e tinha apanhado um susto.
E agora há que trocar a roda o mais depressa possível, porque, mesmo com os quatro piscas acesos, colete vestido e triângulo a cerca de 50 metros do carro, aquelas bestas passam a alta velocidade como se nada fosse.
Lá houve um ou outro mais consciencioso que mudou para a faixa da esquerda - o resto é para esquecer.
Roda mudada e fogo à peça!
Era domingo! Lá não é como aqui. Nós é que temos tudo aberto.
Lá tive que ficar naquela terra que dá pelo nome de Quintana de Puentes, por acaso um local bonito, à beira rio e sossegado.
No dia seguinte comprei dois pneus novos, mas infelizmente tiveram que ser de outra medida, porque, da medida que vem no livrete não há.
Venho eu todo lampeiro na auto via que nada mais é que uma auto estrada e, ao longe, um polícia no meio da faixa a fazer-me sinal para parar. Estes gaijos são doidos!
Control de alcool! disse-me ele.
Deu-me una boquilha devidamiente acondicionada.
Abre-la! Cierto. Coloca aqui en la maquina. Aora sopra con fuerza.
E yo sopré! 3 zeros. - Solo podia ser. Yo no bebo alcool! Solo Whisky, Gin, Licor Beirão, etc.
Atravessei um bocado que parece um deserto e entrei em Portugal por Vila Verde da Raia (Chaves).
Uffffffffffff! Finalmente em Portugal!
Agora, já deixei 100 € no electricista, 230 € no espanhol dos pneus, 115 € nos bascos da bateria e já estou com comichão para me meter noutra - mas cá dentro.
Fogo à peça!
(grande seca)